COWAP

Intolerância em relação aos gêneros
COWAP na FEPAL

A partir do Comité de Mulheres e Psicanálise, COWAP, a reflexão sobre a intolerância em relação aos géneros apresenta-se como um tema crucial a ser tratado no pré-congresso da FEPAL. Propomos refletir sobre o modo como a inclusão e a diversidade são adquiridas não apenas através de textos teóricos ou da nossa reflexão, senão que constituem condições limitadas pelo inconsciente, produto dos caminhos pulsionais fundacionais do psiquismo.

Sabemos que todas as formas de discriminação sistémica, incluindo o sexismo, a violência de género, o racismo e a discriminação das pessoas LGBTQIA+, estão inter-relacionadas, sendo produto da impossibilidade de reconhecer, respeitar e tolerar o diferente. Parece-nos imperativo refletir sobre esta situação a partir da perspectiva da psicanálise e de outras disciplinas. Neste sentido, o conceito de interseccionalidade (Williams Crenshaw, 1989) é fundamental para compreender os privilégios, bem como as desigualdades e opressões que cada pessoa vive.

A rejeição do outro tem sido estudada na psicanálise. Castoriadis (1996), por exemplo, traz o ódio e a rejeição do outro a que se junta o ódio da sociedade ao diferente. Desta forma, psique e sociedade serão pensadas de forma indissociável. A noção do abjeto, proposta por Kristeva (1988), nos ajuda a sinalizar que essa parte rejeitada e expulsa que ocupará o lugar do repulsivo, foi outrora uma parte de nós mesmos.

Consequentemente, reconhecemos abusos baseados na orientação sexual e na identidade de género em todo o mundo; recordamos torturas, assassinatos e execuções, tratamentos desiguais, abusos médicos, discriminação no acesso aos cuidados na saúde, ao emprego e à habitação, violência doméstica, abusos de todo tipo contra crianças e mulheres, e negação dos direitos e reconhecimento da família. A inequidade e intolerância com os géneros parecem, infelizmente, estar em aumento, embora, ao mesmo tempo, alguns direitos também foram conquistados em alguns países.

Mas algumas indagações persistem: porque o outro é uma ameaça? porque a sua inexistência é essencial para alguns grupos? porque uma tendência psíquica se torna em algumas pessoas uma estrutura ou uma defesa? como e porque as variáveis interseccionais se relacionam entre si e porque muitas vezes reforçam o ódio de género? quais são os mecanismos da intolerância?

Propomo-nos confrontar as nossas próprias raízes, limitações psíquicas e preconceitos inconscientes para promover mudanças. Este é um desafio contemporâneo significativo para nossa práxis psicanalítica e para o Comité da COWAP, que procura dar voz à reflexão a partir da prática clínica. É necessário ir além das teorias clássicas para articular novos modelos que nos permitam sair da nossa zona de conforto intelectual e explorar os desafios que a diversidade, a violência e a barbárie colocam à nossa prática psicanalítica.

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