15 e 16 de outubro
Encontramo-nos em um momento histórico de profundas mudanças e transformações. Os paradigmas, esquemas e modelos que nos permitiram nos organizar humanamente estão em crise, ao mesmo tempo em que o Mal-estar civilizatório que Freud nos anunciou continua sua marcha.
Às formas "tradicionais" de sofrimento humano com que nós, analistas de crianças e adolescentes, lidamos - hoje com novas roupagens - acrescentam-se aquelas que podemos classificar como "modernas", intimamente ligadas à contextos epocais. A clínica contemporânea impele-nos a rever o já existente e a criar formas teóricas e técnicas de lidar com os sofrimentos e experiências que chegam hoje a nossos consultórios e que, naturalmente, expressam e são produto da ordem social: migrações, pobreza, marginalidade, racismo, entre outros fenómenos.
Byung-Chul Han, no seu livro "Não-coisas. Reviravoltas do mundo da vida", (2022), salienta como o mundo atual é um mundo em que as coisas, enquanto fatores de estabilização e sustentação da experiência humana no sentido de Arendt, estão sendo encobertas e substituídas pela informação. O efeito desta informatização da experiência humana é tão forte, segundo este autor, que a noção heideggeriana de Ser teria de ser revista à luz desta nova organização do mundo.
Um dos muitos fenómenos - efeito desta informatização - é a multiplicação de coisas utilitárias desprovidas de sentido numa cadeia de significados humanamente investidos.
As várias expressões do modelo económico neoliberal, com os seus discursos correspondentes, facilitados pelas possibilidades oferecidas pela tecnologia, tentam reduzir a vida ao registo do mercado e do consumo. Observamos na nossa prática fenómenos gerados por esse fato: a biologização mercantilista das patologias e da dor mental, que substituem a dimensão narrativa dos acontecimentos psíquicos pela dimensão informativa e efémera do consumo: hoje pode comprar-se no mercado o cobertor que serviria de objeto transicional...!
É evidente a urgência de repensar constantemente a nossa disciplina, o que de fato já está sendo feito. Para alguns é necessário mudar paradigmas, para outros trata-se mais de reformular ou ampliar a teoria.
É a partir da tentativa de pensar o presente, considerando alguns aspectos do contexto contemporâneo, mas sem sermos capturados por ele, que propomos reunir-nos para pensar o III Simpósio de Crianças e Adolescentes. Estamos elaborando uma programação enfatizando a clínica, a interdisciplinaridade e o contexto. Buscaremos a partir daí pensar sobre os bebês, crianças e adolescentes latino-americanos, em suas realidades atuais, testando nossas ideias e experiências, de acordo com os tempos e as necessidades exigidas pelo momento histórico e por nossa disciplina.
Assim organizamos um programa articulado em torno de dois eixos temáticos:
EIXO TEMÁTICO 1: Racismo e Migração. Efeito na transmissão familiar e transgeracional.
EIXO TEMÁTICO 2: Diversidade de género.
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