Sobre a OCAL

Historicamente, a Organização dos Candidatos da América Latina (OCAL) se desenvolveu de forma a estar presente em todos os institutos de formação do continente latino-americano, representando de forma democrática os anseios e impasses que vivem os analistas durante o processo de formação. Hoje contamos com mais de 700 associados e acreditamos que esse número reflete a importância da representação dos analistas em formação no cenário latinoamericano e o interesse por mais canais de trocas e debates, indispensáveis na formação e no aprimoramento do trabalho analítico.

A psicanálise surge como ferramenta de escuta do sofrimento humano e também de seus impulsos mais passionais; em sua história, ela foi atravessada inúmeras vezes por situações de excesso, crises humanitárias e exílios. tanto os elementos de sua constituição, quanto as circunstâncias às quais foi exposta, fazem dela uma forma única de escuta, contenção e produção de sentido humano frente ao desconhecido e ao desamparo. Percebemos que é em contextos árduos que nosso ofício demonstra seu maior potencial, e também sua maior relevância.

Compartilhamos de aspectos que transcendem a nossa geografia. Em nossa origem, dividimos um passado sombrio. Nossas sociedades são em grande parte formadas pelos massacres cometidos aos povos originários. Somos descendentes dessas civilizações e também de seus colonizadores. Somos netos dos escravizados trazidos da África e filhos dos imigrantes que fugiram da guerra e de cenários catastróficos. Somos povos miscigenados, muitas vezes tratados como quintal e mão de obra do primeiro mundo. Somos sobreviventes das perseguições dos regimes militares, e de outros grupos radicais. Se nos seus primórdios, o centro do pensamento psicanalítico situava-se na Europa, hoje sabemos que ele tem se deslocado para nosso continente. Temos aqui na América-latina um solo fértil para o desenvolvimento do nosso campo do saber.

A quantidade de riquezas e potencialidades que possuímos contrasta com o cenário de violências, desigualdades e racismo que ainda são estruturais. Essa é uma marca que infelizmente possuímos. Nessa parte do mundo, precisamos ser analistas criativos e corajosos, lidando constantemente com a dura realidade que se impõe a nós.

A psicanálise é um trabalho que necessita de um grupo para se desenvolver. Desde as trocas de cartas entre Freud a Fliess, as reuniões das quartas-feiras, aos congressos internacionais, até nossas supervisões, seminários, sempre estamos diante da necessidade e da tensão do encontro. Seja com o outro-estrangeiro, seja com o estrangeiro em nós. Consideramos que a principal motivação para isso é a busca por metáforas que deem novos e melhores contornos às experiências humanas antes não apreendidas, ou então apreendidas de forma muito precária. Para isso, necessitamos sair de nós mesmos, de nossos narcisismos. Às vezes sair de nossos institutos, da região em que moramos, do país em que vivemos, e até do conforto de nossa língua materna. Precisamos olhar para longe para capturar o que está perto.

No 35 Congresso Latino-Americano de Psicanálise, a programação do Congresso OCAL ocorrerá de modo bastante integrado com a programação FEPAL. Além do primeiro dia de Congresso com as atividades OCAL, estaremos participando ao longo dos dias de evento, ou seja, a OCAL é convidada a participar, coordenar e integrar mesas em todos os dias do Congresso. Acreditamos que um diálogo horizontalizado e aberto a todos acerca de questões que desafiam nossa formação hoje será rico e pleno de ideias. Pretendemos fomentar o pensamento psicanalítico e dialogar com outros campos do saber, fertilizando a psicanálise além de suas próprias fronteiras. A necessidade de criarmos pontes entre nós é um convite para nos conhecermos e buscar o que há de melhor na América Latina: sustentar áreas de conflitos, diferenças e diversidades, espaços múltiplos onde o Membro OCAL possa se sentir confortável o suficiente para expor seu pensamento psicanalítico, suas ideias e sua presença. Lugar de debate, trocas, aprendizado e ensino. Efeitos da presença afetiva: integração na formação psicanalítica e expansão psíquica.