Boas-vindas a todos os conhecidos, às amigas, aos amigos, aos colegas, à presidente da IPA, Harriet Wolfe, à vice presidente da IPA, Adriana Prengler, ao presidente da APsA, Daniel Prezant, à presidente eleita da APsA, Bonnie Buchele, à presidente da NAPsaC, Leigh Tobias, e aqueles que participam pela primeira vez do Congresso de Psicanálise da Federação Psicanalítica da América Latina. Depois de seis anos, sem essa concentração presencial dos psicanalistas da FEPAL e dos inúmeros colegas e estudantes que se juntam a nós para tratarmos dos interesses da psicanálise, dos psicanalistas e do mundo, chegamos ao ponto de encontro. Trazemos as ressonâncias de nossas experiências nestes últimos anos, as reflexões dos saberes pelos quais enveredamos e os relatos de nossa prática, daquilo que restou no psiquismo do psicanalista do que foi tecido entre ele e seu analisante.
Nessa bagagem muitos de nós trazem também tristeza, dor e saudade por termos perdido colegas queridos e importantes para o movimento psicanalítico. Nós, da diretoria da FEPAL, sentimos por cada uma das perdas, mas hoje, o nosso coração bate acelerado por emoções misturadas: sentimos alegria pelo encontro, tão necessário a nós, que vivemos a solidão da prática psicanalítica, e contentamento por termos chegado até aqui com o trabalho que constava de nossa plataforma realizado, ainda que tenhamos cometido falhas.
Ao mesmo tempo, a tristeza nos habita por estarmos há exatos trinta dias sem a vívida e forte presença física de Joyce Goldstein, secretária geral da FEPAL. No dia 16 de setembro ela partiu serenamente, deixando-nos todos em luto. Como diz Roland Barthes: “No luto real, é a ‘prova de realidade’ que me mostra que o objeto amado não existe mais” (1991, p.104), esta prova nos afetou por esses trinta dias, pois, na qualidade de Joyce, ela trabalhava em todas as frentes, acompanhando, verificando, realizando, criando com a sua inquietação apaixonada, parecia que nada escapava ao seu olhar. Entretanto, a sua eficiência era adornada pelo seu bom humor, pela sua graça, beleza e feminilidade, Joyce era daquelas pessoas que constroem, torcem e vibram junto pelo sucesso do coletivo, parceira, era capaz de voltar atrás no seu ponto de vista para que um objetivo desse certo. Intensa, às vezes, ficava muito brava e não tardaria a dizer o que estava pensando, franca e transparente, tornava-se de maneira fácil totalmente confiável.
Este Congresso era a meta da Joyce, ela investiu os seus dois últimos anos de vida para que tudo funcionasse bem como o planejado. Teve ao seu lado o querido Renato Goldstein, esposo, companheiro amoroso e incansável, e os seus admiráveis filhos, Julia e Pedro Goldstein. Hoje, os três estão aqui conosco. Era emocionante acompanhar, quase que de maneira inconsciente, este trio treinando a onipresença no cuidado amoroso à esta mulher gigante. A ela, e a eles, que suportaram as agruras de ter um membro da família ocupando um cargo que demanda em tempo quase integral, o nosso mais sincero e profundo agradecimento, a eles e aos amigos, colegas, analisantes e supervisionandos o nosso abraço solidário e fraterno na dor.
O 35º Congresso de Psicanálise da América Latina tratará da intolerância, do fanatismo e da realidade psíquica, entre outros temas, com enfoque no racismo, nas migrações e na diversidade sexual e de gênero. Nos passeios psicanalíticos invariavelmente retornamos aos textos freudianos, gênese da nossa disciplina, com o intuito de revisitar as bordas de um conhecimento que se amplia e se desenvolve no contato com os outros saberes e com a cultura. Esta é a potência da psicanálise uma prática com contornos bem definidos e com abertura à observação clínica e à investigação permanente que lhe acrescentam novos aportes advindos do nosso estar no mundo.
E estar no mundo nos impõe o enfrentamento de desafios pessoais e coletivos. Lidamos com a desestabilidade, com o desequilíbrio e com as constantes violências que explodem em guerras fratricidas e em destruição do planeta, os acontecimentos nos empurram em uma velocidade cujos nossos psiquismos não dão conta de acompanhar, de decodificar, de elaborar. Vivemos um momento agudo de desencontros, de desamor, de desrespeito ao outro. Esse caos provoca danos que incidem nas subjetivações, que engendram as divisões e as desigualdades sociais. Reunirmo-nos é igualmente uma tentativa de, por meio do pensamento, buscamos a linguagem que nos ajude a processar em nossa prática novos caminhos para as travessias.
A intolerância, o fanatismo e o racismo, realidades de nossa exterioridade, se instalam na fantasia e na realidade interna dos sujeitos, pelo intercâmbio adoecido que reproduz, nas relações interpessoais, o que vemos acontecer nas relações sociais. Tratar desses temas é trazer para o campo da psicanálise assuntos inquietantes que angustiam a todos nós. É nesse lugar de seguir fazendo, com todas as turbulências, no meio delas e apesar delas, que nos encontramos.
Como diria Joyce, aplaudida por Cassorla, há que se esperançar.
Com o meu afeto, dedico este Congresso a ela.
Sigamos... Declaro aberto o 35º Congresso da FEPAL.
Muito obrigada!
Wania Maria Coelho Ferreira Cidade