EIXO TEMÁTICO 2: Diversidade de gênero. Argumento.
Os novos contextos, a emergência de expressões renovadas do sofrimento psíquico em crianças e adolescentes, bem como os desafios implicados para a clínica, incitam-nos a pensar a partir de nossa disciplina no fenômeno dos discursos políticos de gênero em relação à diversidade psíquica dos sujeitos.
Não é possível na atualidade afirmar que a anatomia é o destino, ou que o gênero esteja geneticamente instaurado e seja simplesmente uma manifestação distinta a outras épocas da expressividade genética. Entretanto, não faltam aqueles que continuam defendendo esta ideia.
Para alguns, o gênero é construído a partir das identificações tenras intrafamiliares; esta visão se situa com abertura às diferenças de gênero e às transformações dos sujeitos em relação às diferenças clássicas, considerando ainda que continuariam sendo produto dos primeiros vínculos intrafamiliares por identificação com os pais.
Sob outras perspectivas, no discurso da diversidade de gênero, expressa-se uma confusão de base, ao se subverter o uso da noção diferença por diversidade. Estar-se-ia produzindo uma mudança nas teorizações psicanalíticas, partindo-se da lógica das diferenças muitas vezes entre os dois termos mulher/homem, fálico/castrado, ativo/passivo, ou em dois tempos, como primário e secundário, a libido narcisista/libido objetal, até a lógica da diversidade como efeito da destituição e desconstrução da lógica anterior, produzindo-se uma abertura ao diverso.
Isso coincide com outras visões que encontram nesses discursos o vestígio da lógica de mercado, apoiada em sujeitos submetidos pelo Superego à primazia do Gozo, postos frente a uma espécie de oferta de mercado na qual é possível escolher com a fantasia da satisfação total, de completude, quando na verdade se trata mais do consumo insaciável de discursos, mercadorias e serviços.
Em outras visões, a decadência do patriarcado somada aos fenômenos contemporâneos permitiu diversas expressões da sexualidade organizadas a partir do sexual pulsional e já não segundo a organização edípica e da castração, que ultrapassaria a compreensão sob a psicopatologia e requer a construção de novas ferramentas para sua análise.
As perspectivas anteriores são apenas algumas aproximações que deixam de fora muitas outras. Propomos pensarmos juntos os discursos da diversidade de gênero, a partir de propostas e perguntas que abram um leque de formas possíveis de abordar o sofrimento psíquico na infância e na adolescência em nossa América Latina pluriétnica e multicultural.